Problemas Comuns em Projetos de Capital: Envolvidos, Camadas, Riscos e Desafios

Por:Editor Midias
Destaque | Engenharia | Gestão de Projetos

24

set 2024

Projetos de capital, especialmente megaprojetos de infraestrutura, desempenham um papel crucial no desenvolvimento econômico e social de países e cidades. No entanto, a gestão desses empreendimentos é desafiadora, com riscos significativos de atrasos e estouros de orçamento. Este artigo explora os problemas comuns enfrentados em projetos de capital, analisando os principais envolvidos, as camadas organizacionais, os riscos, desafios e apresenta orientações para maximizar as chances de sucesso.

Um exemplo notável é a expansão do Canal do Panamá, iniciada na década de 2010, que trouxe expectativas de aumento do tráfego e novas oportunidades comerciais, principalmente para a América Latina e a costa leste dos Estados Unidos. No entanto, esses benefícios esperados foram acompanhados por vários desafios comerciais. Entre eles, a menor demanda agregada global, o aumento dos custos de transporte marítimo devido ao preço dos combustíveis e às altas taxas de pedágio, e a pressão sobre a infraestrutura portuária e terrestre para acomodar os navios de maior porte (New Panamax), que podem transportar até 12.500 TEUs.

Além disso, a competição com os portos da costa oeste dos EUA e com o Canal de Suez contribui para a complexidade logística desse megaprojeto. Esses desafios ilustram a necessidade de planejamento meticuloso e de gestão eficiente em qualquer projeto de capital (Rodrigue, 2010).

Vejamos a imagem 1, que mostra os problemas e desafios da expansão do Canal do Panamá:

Fonte: Adaptado de Rodrigue, J-P (2010)

Envolvidos e Camadas de um Projeto de Capital

Em megaprojetos de infraestrutura, os envolvidos podem ser numerosos e variados, incluindo governos, entidades públicas e privadas, contratantes, subcontratantes, consultores e comunidades locais. Cada parte tem um papel vital no planejamento, execução e entrega do projeto. Esses projetos muitas vezes envolvem múltiplas camadas hierárquicas, o que pode complicar a comunicação e a tomada de decisão.

Os projetos geralmente seguem a seguinte estrutura organizacional:

  1. Subcontratados reportam aos contratados;
  2. Contratados reportam ao gerente de construção ou gestor da contratada;
  3. O gerente de construção responde ao representante do proprietário;
  4. O representante do proprietário reporta ao patrocinador do projeto;
  5. O patrocinador do projeto reporta à liderança executiva.

Essa estrutura gera complexidades, pois cada camada tem interesses diferentes, como reduzir custos ou ampliar escopo. Muitas vezes, a autoridade para tomar decisões críticas está distante da execução, gerando desafios para ajustar o cronograma ou o orçamento quando necessário.

Riscos Envolvidos

Megaprojetos são inerentemente arriscados, especialmente quando ultrapassam a marca de US$ 1 bilhão. Estudos, como o do especialista em gestão de projetos Bent Flyvbjerg, mostram que 9 em cada 10 megaprojetos estouram o orçamento. Isso se deve principalmente a três fatores:

  1. Superotimismo e Complexidade: Para justificar um projeto, muitas vezes os custos e prazos são subestimados e os benefícios superestimados. Isso cria uma expectativa irrealista desde o início, encaminhando o projeto para o fracasso.
  2. Execução Pobre: Problemas na execução, como escopo mal definido, atrasos no fornecimento de materiais ou baixa produtividade, resultam em estouros de tempo e custos. Um estudo da McKinsey mostrou que 73% dos projetos com problemas sofrem devido a falhas na execução.
  3. Fraquezas na Estrutura Organizacional e Capacidades: A falta de capacidades adequadas e a complexidade da estrutura organizacional também contribuem para o fracasso de megaprojetos. A curva de aprendizado é íngreme, e a criação de uma equipe eficaz pode levar meses, o que impacta negativamente o cronograma do projeto.

Dificuldades e Desafios

Além dos riscos, projetos de capital enfrentam desafios significativos, como:

  • Baixa produtividade na construção: Ao contrário do setor manufatureiro, onde a produtividade dobrou nas últimas décadas, a produtividade na construção permanece estagnada, resultando em custos crescentes sem aumento de eficiência.
  • Falta de controle robusto: Muitos projetos não possuem protocolos adequados de análise e gestão de riscos, além de relatórios desatualizados sobre o progresso. Isso dificulta o controle do cronograma e do orçamento, levando a múltiplas estimativas de desempenho divergentes.
  • Inadequação de planejamento e preparação: A pressa para iniciar a construção leva a problemas de definição do projeto e análise de riscos. Assegurar um planejamento detalhado e fazer a engenharia completa antes da construção pode reduzir custos e prazos em até 20%.

Orientações para Melhorar a Performance de Projetos de Capital

Para enfrentar esses problemas e desafios, algumas orientações podem ser seguidas:

  1. Planejamento e preparação adequados: Realizar a engenharia e análise de riscos antes de iniciar a construção é essencial para evitar problemas de execução. Empresas de análise de projetos, como a Independent Project Analysis, demonstram que projetos bem definidos reduzem custos e prazos significativamente.
  2. Gestão de riscos eficaz: Implementar um sistema de controle robusto que utilize dados em tempo real sobre o progresso do projeto pode prevenir estouros de custos e cronogramas. Medir o progresso com base em atividades realizadas no campo, em vez de pagamentos, é uma prática recomendada.
  3. Capacitação organizacional: Assegurar que a estrutura organizacional do projeto tenha as capacidades adequadas e que as decisões sejam tomadas o mais próximo possível da execução pode melhorar significativamente o desempenho do projeto.
  4. Uso de análises comparativas: Utilizar a técnica de “previsão de classe de referência” para comparar projetos planejados com projetos similares já concluídos permite estimativas mais realistas de custo e tempo.

Conclusão

Projetos de capital, especialmente megaprojetos, são vitais para o desenvolvimento econômico e social, mas enfrentam desafios substanciais relacionados à complexidade, execução e gestão de riscos. Ao seguir as melhores práticas em planejamento, execução e controle, os envolvidos nesses projetos podem melhorar as chances de sucesso e garantir que os benefícios sociais e econômicos esperados sejam entregues no prazo e dentro do orçamento.

Estudar e planejar adequadamente o projeto de capital antes de sua execução é essencial para mitigar riscos e evitar surpresas desagradáveis durante o ciclo de vida do projeto. Conforme destaca o relatório do PMI, “quanto maior o tempo gasto no planejamento de um projeto, menor a chance de que ocorram desvios significativos de cronograma e orçamento” (Project Management Institute, 2021). Este planejamento antecipado permite que problemas potenciais sejam identificados e resolvidos ainda na fase de definição, além de garantir uma previsão mais precisa de custos e benefícios. Essa abordagem preventiva é crítica para que os projetos sejam executados de forma eficiente e eficaz.

 

Referências

Garemo, N., Matzinger, S., & Palter, R. (2015). Megaprojects: The good, the bad, and the better. McKinsey & Company. Disponível em: https://www.mckinsey.com/capabilities/operations/our-insights/megaprojects-the-good-the-bad-and-the-better

Project Management Institute. (2021). A Guide to the Project Management Body of Knowledge (PMBOK® Guide).

Rodrigue, J-P. (2010). Factors Impacting North American Freight Distribution in View of the Panama Canal Expansion, The Van Horne Institute, University of Calgary.


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